tristeza

O lado bom da Tristeza.

Para que serve a Tristeza? Geralmente apreciamos e desejamos sentir emoções que nos fazem sentir bem e evitamos aquelas emoções que nos fazem sentir mal. Creio que todos os animais tenham este instinto – buscar ações e comportamentos que levam ao prazer e evitar a todo o custo as ações e comportamentos que nos provocam dor.  É nesse sentido que classificamos nossas emoções como positivas ou negativas.

Mas mesmo as emoções que chamamos de negativas tem funções fundamentais, desenvolvidas ao longo da evolução das espécies, e estes benefícios estão ligados diretamente à nossa sobrevivência. Cada emoção gera um comportamento automática para que possamos reagir rapidamente a diversas situações das nossas vidas.

O medo, por exemplo, pode ter a função de nos proteger de situações potencialmente perigosas. O nojo pode nos salvar de ingerir alimentos contaminados. A raiva pode nos dar aquela injeção de adrenalina para reagir à uma ameaça ou pode dar uma dose extra de motivação para conseguir vencer um desafio muito difícil.

Mas e a tristeza? Qual seria o benefício dessa emoção para a nossa sobrevivência?

Na nossa busca por esta resposta, conhecemos Joe Forgas, professor de Psicologia na Universidade australiana de New South Wales e que vem estudando as emoções negativas por anos. Sua principal obsessão era justamente encontrar o propósito natural para a tristeza.

Como parte do seu estudo, o professor induziu emoções positivas e negativas nos participantes da pesquisa e então monitorou seus desempenhos em uma série de atividades.

A surpresa foi que os participantes da pesquisa que experimentaram emoções negativas apresentaram um padrão bem curioso – estes participantes performaram melhor em uma série de atividades.

Sua memória demonstrou ser mais precisa, o julgamento parecia estar mais correto e livre de preconceitos ou outros viéses e a comunicação foi considerada mais efetiva e persuasiva.

Então o que isso quer dizer, em termos de psicologia evolucionária?

Para que serve a tristeza?

O ser humano é essencialmente um ser social e ao longo da evolução foi desenvolvendo mecanismos que permitissem ampliar a comunicação entre nossos iguais. Especialistas em evolução argumentam que talvez tenha sido este o fator crucial para que o homo sapiens tenha prevalecido entre outras espécies – a sua capacidade de comunicar mensagens complexas.

Comunicamos com a nossa voz, nossas mãos, gestos, posturas, nosso corpo como um todo.

A tristeza, assim como outras emoções, provoca mudanças na nossa fisiologia – bioquímica, postura corporal, expressão facial, suspiros…  A Evolução fez das emoções também um mecanismo de comunicação. Pessoas com expressão facial de raiva, esbravejando e resmungando provavelmente afastarão outras pessoas. É como se seu corpo mandasse a mensagem : Afaste-se estou agressivo. Por outro lado, pessoas comunicando Alegria passam a mensagem : Aproxime-se, descobri algo muito bom. O nojo/aversão comunica, afaste-se – há algo bem desagradável por aqui.  E neste aspecto, a tristeza serve como um pedido de ajuda : Não sei como lidar com isso sozinho, preciso de ajuda! Se olharmos para nossa infância, veremos que essa é uma reação instintiva – o bebê quando sente algum desconforto recorre ao choro para conseguir a ajuda que precisa. E, de maneira geral, às pessoas tendem a ajudar seus semelhantes quando estes demonstram algum tipo de tristeza ou sofrimento.

E é aí que a pesquisa do professor Joe Forgass vem trazer achados interessantes.

Ao mesmo tempo em que estamos pedindo ajuda, a nossa memória se amplia, nossas capacidades de comunicação e expressão se tornam mais precisas e nosso julgamento mais livre de enganos. Precisamos de ajuda para lidar com alguma coisa e a tristeza ajuda a atrair pessoas dispostas à ajudar e ainda nos proporciona meios de expressar e comunicar com mais precisão o que estamos sentindo. Além do mais, nossa memória é capaz de registar os mínimos detalhes da experiência, indicando que das situações tristes podemos extrair valiosos aprendizados.

O problema é que ao longo da construção da nossa sociedade foram surgindo uma série de regras comportamentais. Sentimentos como raiva, aversão e tristeza foram sendo considerados impróprios, negativos e indesejados. Segundo o psicoterapeuta e pesquisador da Metaprocessos, George V. Szenészi, “em algum momento nossos pais, professores ou outras pessoas começaram a nos mostrar o que é certo e o que é errado nas nossas manifestações emocionais, isso porque a sociedade tem suas regras e a cultura tem seu jeito de lidar com as emoções. […] Não pode chorar livremente porque é fraqueza, não pode mostrar raiva e indignação porque é descontrole, não pode ter medo porque é covardia, não pode ser muito alegre porque é pouco educado, não pode experimentar os prazeres na vida porque a vida é sofrida, não pode mostrar a aversão e o desgosto porque é falta de educação, não pode mostrar surpresa porque é escandaloso.”

No “evitar” das emoções é que surgem os problemas.

Cada emoção tem o seu papel, tem uma mensagem á comunicar e tem uma função biológica á cumprir. É preciso deixar que cada emoção que chega se manifeste, seja ouvida, acolhida, que cumpra o seu papel para então ser transformada – em aprendizado, maturidade ou habilidade, naturalmente. Isso quer dizer que emoções devem ser sentidas em toda a sua totalidade, mas não devem ser prolongadas. Aquela tristeza prolongada, que não passa ou que insiste em voltar, é uma tristeza que não está tendo a sua intensão atendida – não está recebendo a atenção que lhe pede. Você está ouvindo a mensagem que esta emoção está comunicando? Está acolhendo ou sufocando esta emoção? Seu organismo pode estar tentando comunicar – Preciso de ajuda! Preciso de alguém! – Você está se permitindo comunicar essa mensagem e está permitindo receber esta ajuda? Muitas vezes a auto-sensura não permite que demonstremos tristeza, que demonstremos que precisamos de ajuda.

Todas as emoções devem ser acolhidas, sentidas e compreendidas na sua totalidade.

Emoções que são abafadas e reprimidas viram memórias intensas – carregadas de sentimentos fortes. Em sua pesquisa sobre as emoções, Szenészi afirma que tendemos a substituir as nossas emoções verdadeiras por sentimentos substitutos – versões mais suaves e mais aceitas pela sociedade: Sentimentos como ressentimento, rejeição, receio, obsessão, ansiedade, vergonha, indiferença, timidez, ciúme, mágoa, intolerância, rancor, culpa, desconfiança, saudade… No fundo cada uma delas é uma variação elaborada e segmentada de uma das emoções primárias, naturais ao ser humano – Raiva, Tristeza, Aversão/Nojo, Alegria. A diferença para nós é que as emoções primárias tendem a passar rapidamente – elas aparecem em reação a algo e assim que tem sua intensão compreendida e atendida, vão embora. Já os sentimentos substitutos duram mais, e muitas vezes chegam a se arrastar por toda uma vida.

Freud, o pai da psicanálise e um dos nomes mais influentes da psicologia, chamou estas memórias intensas, que foram reprimidas, de “recalque” e um dos papeis das psicoterapias é o de resgatar e aliviar as emoções “enjauladas” nessas memórias reprimidas.

Fontes:

Ekman, Paul – A linguagem das Emoções. Livro. Lua de Papel, 2011.

Diouglas Hoppe

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3 comentários

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  • A leitura desse texto, ensejou para mim muitas reflexões. Quando não ouvi minha tristeza e nem dei lugar para ela, caí em depressão. A minha tristeza era justa, mas eu não aceitava o fato que a gerou.

  • Fantástico 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻Muito bom o texto! Me permita postar alguns trechos nas minhas redes sociais

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